Memória do Torto, Memória do Corpo

Esta investigação cênica teve início em 2009. Nasceu como um experimento e segue como um experimento até hoje. Foi abandonada e resgatada várias vezes e, mais uma vez, resolvemos visitar essas memórias. O trabalho foi construído a partir de um encontro da atriz com uma outra mulher. Na época, uma menina que estava pendurada na porta de um caminhão, no semáforo. Quando o sinal abriu, ela desceu e os olhares se encontraram. Ali, naquele momento, esta investigação precisava começar. Muitas questões surgiram: Que espelho foi aquele? O que da atriz se refletiu ali? Que fatores construíram a identidade de cada uma? Por um período, as duas vidas se tocaram de leve. Foram várias horas de conversas, registros e cachorros-quentes na calçada. O material que surgiu desse encontro alimenta a investigação até hoje. Memórias antigas, questões atuais. Recortamos e colamos (literalmente) tiras de texto, rearranjando as ideias, excluindo o que não pertence mais ao contexto, seguindo o que é característica do próprio trabalho.

Este trabalho já caminha há 12 anos e continua sendo caminho e não chegada. Nasceu de um encontro da atriz com a “moça da rua” e foi para dentro da academia com o intuito de provocar a discussão sobre o papel de cada um no fato da moça estar lá. A cada retomada, o espetáculo dialogou com uma nova equipe, com uma pesquisa mais aprofundada, com inúmeras situações de troca com territórios periféricos, simbólicos e geográficos. Pepe Pessoa, Jessé de Oliveira, Daniel Collin, Fábio Cuelli foram algumas das pessoas que contribuiram para as releituras, recortes, desapegos, até chegarmos nesta última versão, também temporária, que conversa com a questão do papel da branca na luta antirracista através de recortes autobiográficos, memórias das trocas com a “moça da rua”.